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ESCADAS INVERTIDAS [Incêndio]
Publicado dia 29/09/2020 (lido 2536 vezes)
Você sabia que no Brasil, aparentemente devido a um erro de interpretação, as escadas prolongáveis com corda (chamadas também de escadas extensivas) estão montadas ao contrário? A descoberta foi feita pelos Sapadores-Bombeiros do ANSB, alguns anos atrás quando eles foram dar um curso e perceberam que sua documentação pedagógica descrevia o oposto do que a escada permitia fazer. Vamos analisar esta situação.

O equipamento

Aqui estamos falando de escalas prolongáveis "manuais", de dois planos (ou de três planos, mas aqui vamos tratar apenas das escadas de dois planos). Estas escadas devem ser apoiadas num elemento (poste, parede...) ao contrário das chamadas escadas aéreas, que não precisam de se apoiar em nada.

As escadas prolongáveis manuais estão disponíveis em 2 tipos: aquela em que se pega o plano superior (pequeno), levanta-se e encaixa-se num degrau do plano inferior (grande), e aquela escada que se estende puxando uma corda.
Para ilustrar as nossas observações, fizemos alguns pequenos desenhos. Em todos estes desenhos o plano grande está em vermelho, e o pequeno em verde. No caso de uma escada em que se levanta o plano superior e encaixa-se num degrau do plano inferior, não há corda (figura 1).
Por isso, é lógico que para você levantar um plano, é preciso que ele esteja virado para você. Ou seja, nessas escadas você coloca o plano voltado para a parede. O plano pequeno fica virado para o trabalhador, ele segura um degrau do plano pequeno e o levanta. Na parte de baixo desse plano pequeno há ganchos, que se encaixam sobre um dos degraus do plano grande, na altura desejada.
Escada muito simples, tem a desvantagem de não poder ser colocada em grande altura, pois só conseguimos levantar o plano pequeno no máximo comprimento do nosso braço.

No caso de uma escada com corda, o princípio é diferente (figuras 2 e 3): uma corda vai da parte inferior do plano pequeno, passa por uma roldana (círculo amarelo em nossos diagramas) localizada no alto do plano grande (vermelho em nossos diagrama, ou seja, o plano que fica com os pés no chão) e volta até embaixo
Quando você puxa a ponta da corda (seta azul), a outra ponta sobe elevando o plano pequeno (seta verde)

Então a corda deve estar de um lado da escada, ir até a roldana, e depois voltar para baixo entre os dois planos.
Nesse sistema, a corda deve obrigatoriamente ir de baixo até a roldana pelo lado do plano grande. Não é possível ter a corda pelo exterior do pequeno plano.
Agora vamos ver a figura 2. Ela representa uma escada brasileira, com corda. A posição do pequeno plano em relação ao grande é uma cópia da posição na escada sem corda. Ou seja, temos o grande plano voltado para a parede e o pequeno plano voltado para o operador. Porém a lógica da escada com corda é diferente. Nesse sistema, a corda encontra-se entre a parede e a escada, o que não é muito conveniente. Além disso, se largarmos a corda, ela vai ficar pendurada verticalmente longe de nós. A figura 3 mostra a montagem encontrada em praticamente todos os outros países: ao contrário da escada sem corda e da montagem brasileira, é o pequeno plano que fica do lado da parede. Quer dizer, com este sistema o cabo está do lado do operador, o que é muito mais ergonômico. Se soltarmos a corda, ela vai ficar contra o grande plano e será fácil pegá-la de volta.

Desse modo, as escadas brasileiras são menos ergonômicas do que as escadas Europeias, por exemplo. Irritante. Mas há algo mais sério....

Ausência de freio

Em escadas sem uma corda, o bloqueio na posição alta é feito por meio de ganchos do pequeno plano, ou seja, ganchos que "sobem" (pois eles estão no plano pequeno, ou seja, o plano que sobe). E como são bloqueadas as escadas com corda? Mais uma vez, parece que as escadas com corda brasileiras foram projetadas, quanto ao bloqueio, seguindo a lógica de outras escadas. As escadas com corda brasileiras usam um sistema de gancho articulado, que é fixado ao plano que sobe (ver foto).
Esse gancho articulado fica sobre o plano que se move, ou seja, ele usa a lógica da escada sem corda. Mas o pior é que a operação desse gancho foi copiada do funcionamento do gancho articulado das escadas aéreas. Escadas aéreas, ou seja, que ficam levantadas sem apoio vertical. Quando a escada aérea sobe, seu sistema articulado se recolhe quando o plano sobe e se abre assim que passamos por um degrau.
Quando queremos descer a escada, é preciso levantá-la ligeiramente para que a parte articulada do gancho se recolha, e então podemos descer o plano (confira no desenho técnico do sistema de bloqueio da escada aérea Gugumus-Charton). É exatamente o mesmo nas escadas prolongáveis brasileiras: puxamos um pouco a corda para recolher a parte articulada e então soltamos suavemente a corda para descer o plano. Exceto que há uma grande diferença: uma escada aérea não se levanta com uma "cordinha" puxada manualmente, mas com um cabo de aço, enrolado firmemente num guincho motorizado ou a manivela. Ou seja, o risco de ruptura do cabo é menor do que o da corda, e principalmente, não há risco de "cair tudo".

Se o cabo passa por um guincho motorizado, o motor tem um freio interno. E do mesmo modo, se o cabo é enrolado utilizando-se uma manivela, também há um sistema de frenagem e lingueta de bloqueio. Coloca-se a lingueta na posição de subida, então gira-se a manivela e quando se quer descer, coloca-se a lingueta na posição de descida e então pode-se girar a manivela na outra direção. Se você largar a manivela, ela não começa a girar sozinha. Ela é bloqueada imediatamente pela lingueta. Se você se esquecer de colocar a lingueta, não há perigo: os guinchos da escada são geralmente equipados com freios. Se a escada desce um pouco rápido demais, o eixo sobre o qual o cabo é enrolado gira, e pela velocidade ele provoca o deslocamento de duas peças cônicas que se bloqueiam uma na outra (Confira no desenho técnico do freio de cone, da aérea escada Gugumus-Charton)

Na verdade, em uma escada aérea há um gancho articulado para bloquear e um sistema de guincho (com ou sem motor) que controla a subida, agindo como uma proteção real contra a queda. Em uma escada manual brasileira, como o gancho é uma cópia do gancho da escada aérea, há travamento na posição alta, mas não há proteção contra queda: se soltarmos a corda, o plano cai até o chão, porque não há nada para pará-lo.

E na Europa?

Por outro lado, na Europa as escadas prolongáveis têm um pára-quedas, de modo que, se soltarmos a corda, a escada só cairá até o degrau inferior seguinte. Vejamos como isso funciona, nos nossos esquemas de 4-1 a 4-4. No plano fixo, portanto, ou seja, o plano grande, existe um gancho articulado. Ao puxar a corda (4-1, seta azul), o plano pequeno sobe (seta verde). Ao passar pelo degrau, o gancho pivota em seu eixo( seta amarela), permite que o degrau passe e logo em seguida, pelo seu peso, ele volta à posição (4-2), desse modo bloqueando o degrau e impedindo o pequeno plano de descer novamente. Assim nós podemos estender a escada e cada vez que se passa de um degrau, o gancho volta para o lugar.
Agora, como fazer para recolher ("encurtar") tal escada? o princípio é simples: do lado do operador, a corda passa dentro do gancho articulado. Este é o segredo! Primeiro o operador vai puxar a corda para soltar o gancho, levantando o degrau (4-3). Então, com o gancho liberado, o operador vai afastar a corda do grande plano (seta azul, Diagrama 4-4). Desse modo a corda vai fazer o gancho pivotar ao redor do seu eixo, retirando a sua parte bloqueadora do eixo de descida dos degraus. Segurando a corda afastada da escada para manter a posição do gancho, o operador irá soltar a corda devagar. E desse modo o pequeno plano vai descer, sem que o gancho bloqueie-se nos degraus.
Se por qualquer motivo você largar a corda, ou a corda arrebentar, o gancho imediatamente volta para o lugar e bloqueia o próximo degrau. Ou seja, com este princípio, o gancho é tanto um sistema de bloqueio quanto um sistema anti-queda. Mas é claro que esse sistema, muito fácil de fabricar e muito eficaz, só pode funcionar se a escada é montada com o plano pequeno voltado para a parede, com a corda voltada para o operador.

Conclusão

Agora você entende por que, assim que uma unidade de Sapadores-Bombeiros recebe escadas, os Sapadores a desmontam e montam novamente para o que consideramos o sentido "certo". Ao fazer isso, os Sapadores também adaptam um sistema anti-queda. O curso de escada (ESC-1) dos Sapadores-Bombeiros, dado a partir das primeiras semanas de treinamento, já utiliza escadas montadas "à moda europeia", a fim de garantir uma maior segurança para o pessoal.

Vídeo da escada em https://youtu.be/7rcbFeowVIk

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